"Chega mais, amigo! Sente-se logo à mesa, afina teu violão e cante comigo a canção que fiz pra vencer a tristeza."

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ah, Morena

Ah, Morena,
se tu fosses minha,
só terias alegria,
te daria meu cavaco,
e o que for de mais valia,
pra ter você no meu barraco.

Ah, Morena,
se tu fosses minha,
mesmo minha boemia,
caso seja o desejo teu,
de repente eu largaria,
que é pra ser somente seu.

Ah, Morena,
se tu fosses minha,
inspirado eu viveria,
e com samba e violão,
eu sempre te cortejaria,
pra que seja meu o teu coração.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Amor itinerante

Deixe estar, meu amor
que o mundo passeia errado
De tanto que gira, perdeu o rumo
Não me deu prumo
Fez-me um pobre coitado

Não se afobe se o tempo fechar
Se o retorno atrasar
Que a saudade suplique
Visito-a ao cansar da noite
Sempre nos cantos de um samba triste

Não vacile na frente da dor
O resquício de amor
Que ainda resiste
Levanta este samba arrastado
Encurta a distância que tanto insiste

E se o telefone não chama
A criança reclama
Por favor, explique
Aqui o trabalho é árduo
O tempo é curto e o bolso, triste

E quando o mês terminar
De geladeira vazia e mesa sem requinte
Requente a esperança
E brinque para distrair a fome
Que tanto aflige

E quando o sonho hesitar
Você vai notar, mesmo que distante
Que eu estou pra chegar
Pelo cheiro no ar
Do seu retirante

E para o peito acalmar
A fome passar com essa dor lancinante
Volto para ficar
No seu paladar
Por mais que um instante

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Te dou meu samba

Eu canto samba pra exaltar
meus amores e desamores,
que como guerras e flores,
a vida quis me presentear.

Te dou meu samba, Morena,
com uma volta nessa gira,
me leva contigo pra sempre,
e dessa solidão me retira.

Eu faço samba pra me lembrar,
do rodopiar daquela morena,
que na roda girou sua renda,
pra ver meu queixo desabar.

Te dou meu samba, Morena,
com uma volta nessa gira,
me leva contigo pra sempre,
e nessa paixão me atira.

Eu toco samba pra alegrar,
o mundo que se envenena,
e pras lágrimas da morena
em seu rosto não rolar.

Te dou meu samba, Morena,
com uma volta nessa gira,
leva contigo meu coração,
maior amor que já vira.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Pra Preta Gostar de Mim

Eu quis fazer um samba
pra Preta gostar de mim,
Mas não tenho viola ou bandolim,
nem pandeiro ou cavaquim.
Embora não me faltem
trova, verso ou poesia,
não existe nesse mundo,
samba sem melodia.

Vou pro bar pedir se o Chico,
num prosear em beberico,
atende o meu suplico,
criando um ritmo indiscreto,
com açucar e com afeto,
pra Preta gostar de mim.

Chego à mesa de fininho,
passo a letra pro Toquinho,
pro samba ter um tiquinho,
do colorido de uma aquarela,
sem choro e sem mazela,
pra Preta gostar de mim.

Peço bênção ao poetinha,
e sem cerimonia ou picuinha,
nem hora ou ladainha,
faço com Vinicius de Moraes
uma canção de amor demais
pra Preta gostar de mim.

Chega mais, amigo

Chega mais, amigo
Sente-se logo à mesa
Afine teu violão
E cante comigo a canção
Que fiz para vencer a tristeza

Pois bem, é verdade que a preta se foi
Porém, adie esse papo pra depois
A vida anda apressada
Já é madrugada, não existe solidão a dois

Me chame o Chico, o garçom
Que eu já afrouxei a gravata
Cachaça, petisco do bom
Me mate de rir com as mesmas piadas

Amigo, eu não vou me entregar
Não me olhe com pesar
Não piore o que é ruim
Eu não quero que tenhas pena
E não diga pros amigos
Que me viu tão triste assim

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Adeus à Preta

Minha preta, que sorte
Encontrei o tom pro velho poema
que deixei à beira da morte
enquanto cuidaste de mim

Acontece que ele
Jurou-me de morte
pois não sei fazer samba
com você longe assim

Veja só, minha preta
Você tinha razão
Teu poeta é tristonho
E não vai fingir que não

Se meus versos a levam embora
É porque passastes da hora
D’eu ver quanto a vida é bela
E afinar meu violão

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Papo de Bamba

Veja bem, meu caro amigo e escute o que te digo.
Já é bem noite e está frio, e com preço desse quarto tu me matas de enfarto.
Não penses que sou vadio, só não é pro meu cacife. Eu não como esse rosbife.
E a morena lá na porta é só quem me importa. Mais do que imagina.
Pois eu venho da garoa bem visado nessa boa.
Portanto, gente fina, esse caso eu lhe conto esperando um desconto.

Fui num baile em Viena e avistei uma morena bem no meio do salão.
Não olhava para os lados, onde rapazes refinados lhe estendiam a mão.
Fui esguiando de viés, bem na ponta dos pés, cheio de prosa e papo.
Perguntei na malandragem, se ela era uma miragem. E tomei um catiripapo.
Num sorriso ela retruca: - Miragem não machuca! - me deixando ali no chão.
Com o rosto dolorido me levanto decidido e lhe pego pela mão.
Mostrei todo meu samba, com minha ginga de bamba e a morena fisguei.
E num passe bem dado, com puladinho e cruzado, um beijo lhe dei.

Agora é contigo, amizade!
Sei que tens piedade e vais me ajudar.
Por sua gentileza, e pela minha proeza, pode o preço abaixar.
Entenda o meu lado. Deixe o preço pendurado que volto um dia pra pagar.